O telefone tocou. Era o chefe:
- Abelinha, já escreveu alguma coisa?
- Não senhor, quando terminar aqui, pode deixar que mando pra redação. Desliguei o telefone.
“Merda, preciso escrever”. Pensei. Eu caminhava da janela para a mesa várias vezes, com a xícara de café na mão e uma bituca (de cigarro) na outra.
Na janela encontrava o barulho lá fora, os carros entulhados, os pedestres trombando com filas, lotéricas e inúmeras fichas.
Na mesa encontrava-se um bando de folhas amareladas esperando por um rabisco ao menos, um ensaio para escrever. O suor escorria na testa e caía sobre a camisa já manchada dos cigarros da minha vida. O jeito foi pegar uma folha amarelada para enxugar as crinas.
O café acabou, e então pedi socorro ao wisky que comprei na véspera, talvez ele me desse a condição necessária para começar a escrever. Mas a cada começo de linha, acabava não gostando de nada e jogava fora uma nova folha de papel amarelada e amassada.
Já estava angustiado, quando acabei de perceber: “Merda, escrevi!”
Mandei pra redação.
Ana Nery Machado
Original de 18/01/2004
21/02/2011