quarta-feira, 25 de julho de 2007

Certo-Errado

Às vezes...
o certo é certo
o errado é errado
mas
algumas muitas vezes
o certo é errado
o errado é certo.


Ana Nery Machado.
25/07/2007.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Pus do Mundo


Gente hipócrita, tosca, benevolente. Escárnio da humanidade. O seu egocêntrismo é doentio. A sua vida é uma morte. Para quê viver com tantas fezes, sujeiras e podridões? Sujeito inanimado do ventre de sua mãe, acorda pra vida! Acorda pro mundo! A guerra te espera; te espera em algum lugar, sem motivo, sem causa, só pra você se matar. Incompreensível esta vida que serve pra matar e pra morrer. Essa gente que só nasce pra ter fome e não ter cash. Gente com tanta casa, tanta beleza e tanta raça. Pessoas com muita miséria, muita ponte pra morar e só farinha que pra compartilhar não dá. Acorda! Sai da tua toca, do teu conforto, isso não é a tua vida. Ele também é humano, não é uma lepra ou uma escabiose que profila por toda pele. Você é que é um nada, um ser tão ininteligível que mal consegue distinguir diabo de fênix juntos. Ele precisa do seu ser, nem que seja pra você rir da sua desgraça, da sua fome, da sua vida. Vida que é morte e não é vida. Ele sabe o que você pensa dele: "Talvez fosse melhor não ter nascido", mas o que seria de você se não se achasse mais rico e mais soberano que ele? Você seria a lepra e o leproso, a escabiose e o escabioso, até virar as fezes da doença que te leva para o esgoto do inferno, onde você terá que saber o que é diabo e o que é fênix. Cuidado, Você pode nunca mais renascer das cinzas!
Ana Nery Machado.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Vida Severina


SEVERINA que tirando IN se torna SEVERA. Vida SEVERA, sofrida como toda a gente que vive ela.
SEVERINA não precisa significar só SEVERA, porque ao olho de quem vê, pode se tornar palavra ambígua. Pois tirando o VE, SEVERINA se torna SERINA, e se trocando o I pelo E , eis que SEVERINA, que se tornou SERINA, forma SERENA. Vida SERENA, feliz como gente que vive ela.
Esta vida só podia ser mesmo SEVERINA, assim ela é SEVERA e SERENA, e esta é a grande paródia da vida nossa, SEVERINA.
Humanidade,
Severidade,
Serenidade.
Vida SEVERA.
Vida SERENA.
Apenas
Vida SEVERINA.

Ana Nery.
2004.

Texto-Base: “É difícil defender Só com palavras a vida(ainda mais quando ela é esta que vê , severina)”. João Cabral de Melo Neto.








quarta-feira, 11 de julho de 2007

João que só ouve não

João, carpinteiro, já de meia idade, marido de Maria, pai de cinco filhos ainda menores, mora no subúrbio da cidade com sua família e, nenhuma novidade, João é um desempregado. O relógio toca, João desperta para mais um dia, ele tem que conquistar um emprego. Às seis da manhã, Maria está de pé fazendo café para o marido tomar, João foi comprar pão com algumas moedas. Às sete ele está pegando um ônibus, são duas horas de viagem até os destinos, ônibus lotado, mais da metade dos passageiros em pé, João chega aos destinos: uma construtora de objetos de madeira, uma padaria, uma loja de materiais para construção ... mas sempre a mesma resposta, um sonoro "não". Já passa do meio-dia, João senta num banco da praça, fecha os olhos e sente os raios do sol no seu corpo encharcado, cansado, com fome, deita-se no banco por uns minutos para depois continuar a sua jornada. Uma pessoa passa e joga uma moeda em direção a ele, João dá um sorriso, sabendo com quem foi confundido. Ele pega a moeda e prossegue o caminho, vai a outros lugares e, esgotado do não, pára um pouco em frente a um rio; junto com o rio se encontra o sol, ele olha aquela imagem e não entende porque tanto "não", com a vida lhe dizendo sim. O espetáculo do sol acaba, e João se lembra de voltar pra casa, ele tem que pegar o metrô e por último o ônibus; afinal, a mulher e os filhos esperam novidades, e como acontece todos os dias, João não sabe como dizer que a notícia é um sonoro "não". Mas nesse dia seria diferente, ele voltaria para casa com uma moeda no bolso.
Ana Nery.
2003


O feto

O começo de tudo.
O tudo desde o começo.
Mas nada pode ser o começo
por que alguém já começou algum dia.
Início, princípio, crepúsculo que não é do pôr- do- sol.
Antes do começo houve um final, e começar é querer
diferenciar, mudar, suplementar, alterar constantemente;
não ter certo ou errado.
O erro nem sempre não é um acerto.
Ter voz própria, como um líder para a multidão; falar sem precisar de gestos, som, voz, boca.
Passar códigos para tanta gente, de forma que não seja entendido como o amor, pois seria uma ofensa ao escritor compreender o que é incompreensível.
Criar.
Escrever.


Ana Nery Machado.2003

Adeus


Adeus



Você me olha como ninguém,
sua boca me chama, em
chamas, a cada instante.
Eu paro na porta,
em frente a você,
e seus olhos
brincam
com a
minha
boca.

Você hesita em tocar-me,
mas sabe que precisa me
sentir, então seus dedos
procuram os meus
cabelos, e ficam a
se encantar com
os cachos meus
...e quando louca,
de olhos
fechados,
imagino a sua entrada em mim,
eis que ouço um adeus
e
você
vai
embora.
..
....
.......
....
..



Ana Nery.
2004.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Se ele fosse meu? Não sei. Se não fosse dividido em duas partes, em três até...
A divisão que enlaça os corpos não se tem nas almas.
Tudo não é tão meu quanto pensei, eu sei... Mas nada ainda me foi tirado, escorregando pelas mãos como o sabão úmido e cremoso.
Os olhos me dizem em que eu não quero acreditar, um sentimento a mais, uma vontade de ficar...
O que era uma satisfação apenas, agora é compromisso simples. O corpo virou pele, a boca, emoção; fascinação, a paixão.
Eu, Mônica, ele, Eduardo. Assim como na música, diferentes na vida, iguais nos lençóis. Lá, tudo se torna fluído, unido, sem fim, como se na vida não existisse outra história, como se a vida só fosse assim...
Fazer acontecer? Não precisa, já se faz por si só. O dia, o momento, a noite acontece como se houvesse um compromisso, como se tivesse dito sim em algum tempo, algum lugar... Tudo é aceito, tudo é vontade de estar, sentir, beber do corpo, sede de amar...


Pensando em alguém que está comigo sempre,
Mas nunca está. T.R.E.A.N.


Ana Nery Machado.

01/05/2007

sexta-feira, 6 de julho de 2007

O arpoador

E foi um instante lindo quando se encontraram e o mar casou-se com a areia. É entre o Forte de Copacabana e a Rua Francisco Otaviano com a Av. Vieira Souto. Ali, na pedra que invade o mar separando a praia, tudo aconteceu. As amigas Ipanema, Leblon, Copacabana, testemunhas de uma história carioca por excelência, Jobim deu o Tom e Vinicius a Letra.
Eduardo foi ao seu encontro de todos os dias com o arpoador, mas naquele dia seus olhos acabaram tendo outras atenções... Foi nos cabelos avermelhados que competem com o crepúsculo, foi na boca tão úmida quanto a areia que é molhada pela onda, foi com o azul daqueles olhos que se misturam, se confundem e apenas se igualam com a cor do céu e do mar.
Mônica chorava... Seus olhos pareciam duas marés cheias, profundas, transbordavam e fermentavam a pedra namorada de tantas paisagens, mas suas grandes lágrimas não evitaram que seus olhos mirassem o casamento perfeito de um corpo arenoso, moreno, um conjunto de castanhos que se misturam, se confundem e se igualam ao solo próximo do mar.
Foi instantâneo, frente a frente o encontro, corpo a corpo, nus como a pedra, sedentos como movimentos do mar, pele a pele, assim como sob a areia e o mar, o amor se pegou com os corpos, também sob os corpos a areia e o mar fizeram amor e se tornaram paisagem.
Mônica e Eduardo, corpo em corpo deixam o mar colorido de vergonha, de amor talvez. Uma fotografia, a lua, os corpos, a pedra e a união das águas que se encarregam de contar a história.
Mas o fim aproxima-se, a maré abaixa, o mar começa dar adeus a sua areia, uma lembrança para sentir saudade. A lua se despede, o sol chega com o dia, os corpos se separam, olhos cor de areia olham para o mar, olhos cor do mar olham para a areia, e tudo acaba num repente, mas sem fim, porque o encontro acontecerá outra vez, para sempre, sempre que a paisagem se casar novamente.

Ana Nery Machado.
Santos, 30 de abril de 2007.

E você, o que acha?

Acho que neste momento eu preciso escrever mais e amar menos. Aná Nery Machado 14/06/2020