segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Gisele e o desejo

Há dias que Gisele juntava dinheiro para comprar aquele lanche conhecido por todos daquela cidade fulgurante. Gisele não gostava da cidade, mas gostava do lanche. Ah, aquele lanche... podia se lembrar de quando passou naquela calçada pela primeira vez e começou a salivar de vontade. Enfim, precisava de dinheiro para comprar aquele lanche, e foi aí que fez os cálculos de quantos dias trabalhados precisava para sentar no restaurante Vinho Seco e provar aquela iguaria.
E assim foi feito, trabalhou com a barriga na chapa quente, lavou pratos brilhantemente, cortou verduras e montou marmitas no capricho, até que o dia chegou e juntou o valor adquirido dentro de um saco de supermercado, fez um nó e saiu enfiando tudo no bolso rasgado.
Andava a passos largos na Rua do Ouvidor quando chegou ao restaurante e sentou à beira mar, ainda com os sentimentos nervosos, entregando seu dinheiro ao garçom como se quisesse assegurar suas condições de pagar. Pediu o lanche com a veemência de um caçador, e com o lanche nas mãos, foi abocanhar o seu desejo ao passo que um maltrapilho clamou por comida às pessoas que ali estavam. Gisele fitava a situação ao longe, e ao mesmo tempo, perdeu o desejo da primeira mordida enquanto ninguém olhava para o homem que pedia.
Num arroubo, Gisele levantou com o lanche agarrado entre as duas mãos na direção do homem, foi chegando próximo e ofereceu – o antes que batesse o arrependimento. Mesmo que não tenha dito isto naquele momento, foi o que pensou.
Entregou o símbolo do seu trabalho de dias ao homem e saiu passando a mão na cabeça. O homem agachou no meio - fio da rua e engoliu o lanche numa mordida voraz.
Gisele botou a mão na calça, sentiu a sacola vazia e pensou que pelo menos havia alguma coisa para preencher o bolso. Olhou para a mesa em que estava sentada no restaurante, avistou a taça de vinho seco e sorriu da sua sorte que não era muita, mas também não era nada.
Ana Nery Machado
28/12/2015




quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Lição de Casa

Fico imaginando, quando eu, um bebê gorducho e careca como Buda, virei trabalho para um anjo da guarda.
Lá no céu...
- Ei, anjo, você vai ficar com esse bebê pra cuidar!
O chefe do anjo tira uma pasta do arquivo dos seres humanos e entrega para o anjo.
- Estuda, hein!
O anjo sai com a cabeça baixa, olhando fixamente para a pasta.

Aqui na Terra...
Quase três décadas depois, chego a algumas alternativas do que aconteceu depois da saída do anjo da sala do chefe.
A - Ele achou que não precisava estudar.
B – Ele jogou a pasta na lixeira mais próxima, com raiva do chefe.
C – Ele não sabia ler.
D – Ele era um estagiário.

Resultado...
Seu anjo não faz a lição de casa e quem se %*$#%@ é você!

MORAL: A LIÇÃO DE CASA É IMPORTANTE!
13-08-2015
Ana Nery Machado



quarta-feira, 8 de julho de 2015

Gilka Machado, sempre foi você!

(Começo) Vi um Stand de livros numa feira e logo pensei: “Vou passar longe, pois não posso comprar mais livros, nem tenho onde colocar, meu Deus!”

(Meio de Reflexão) Quase duas décadas atrás, quando percebi que o ato de escrever faria parte da minha vida, resolvi escolher um “sobrenome pseudônimo” e logo decidi que seria o sobrenome de um autor que escrevesse com características que eu admirava, foi quando surgiu o “Machado”... e muitos conhecidos chegaram a jurar que meu sobrenome fictício era verdadeiro, outros diziam até que era por causa de Machado de Assis, “lógico!”, mas eu digo que sempre foi por uma autora que escreveu crônicas, com  a alma, sobre as injustiças sociais da década de 20, muitas vezes tendo que se esconder com nomes masculinos nas páginas dos jornais, e quando trabalhava com a poesia, ousava na sensualidade, não admitindo as hipocrisias convencionais. Viúva do jornalista Rodolfo Machado, dona de pensão para sobreviver, Gilka Machado, sempre foi você!

(Fim) Uma hora depois, saí com o saldo de três livros, mas um deles é de cunho muito especial pra mim, pois quando o folheei, encontrei o nome de Gilka Machado “achado” entre nomes como Gregório de Matos e Augusto dos Anjos, ou seja, ela estava no seu devido lugar. É assim que eu gosto! 

Ana Nery Machado
09/07/2015

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Zezinho: sorte ou azar?

Era um dia comum e Zezinho foi à padaria comprar média para tomar café no outro dia de manhã, pois acordava muito cedo para trabalhar. Como de costume, pegou uma senha na entrada, número 86, gravou bem...
No dia seguinte, Zezinho foi à padaria novamente como em todos os dias e pegou uma senha na entrada, o espanto foi ter pegado o número 86 como no dia anterior. Recordou-se da sua mãe dizendo: “Vou jogar na mega, coincidências não existem, isto é um sinal!” Ouviu isso a vida toda, a verdade é que cada vez que sua mãe sonhava ou via em algum lugar coincidências numéricas, logo ia jogando na mega e nunca ganhou. Por isso, Zezinho nunca acreditou na sorte, “mas quem sabe não seria diferente?” Pensou.
Contou as moedas, ou era o pão ou o jogo, pois o dinheiro não dava pros dois, devolveu a senha e saiu rapidamente da padaria, o sorteio seria naquela noite, não poderia deixar passar. Foi até a lotérica da esquina e já que não tinha 86 na tabela, começou a fazer combinações, subtrações e somas com os dois números.  Fechou a tabela e pagou o jogo. Agora era ir pra casa e torcer...
Zezinho comia as unhas já que o pão de cada dia estava num pedaço de papel numérico, olhava para os números intercalando com o porta-retrato em que estava sua mãe.
Começou o sorteio, fez-se um silêncio na alma de Zezinho quando percebeu que acertara nenhum número, lembrou que no dia seguinte não tinha pão para tomar o café e o estômago parecia gritar um ditado que sua mãe sempre dizia: “Ganhei o mesmo que Luzia atrás da horta.” O que foi que Luzia ganhou? Nem Zezinho sabia, mas tinha a impressão de ter ganhado o mesmo.

Ana Nery Machado
28/05/2015

A política é suja, e você?

A política é suja e isso todo mundo sabe faz tempo. Quero dizer que não tenho preferências partidárias, mas sinto a necessidade de escrever sobre a situação tragicômica por que passa o país.
Sinto um incômodo muito grande quando vejo parlamentares votando contra interesses do trabalhador. No caso da terceirização, por exemplo, dizem que essas medidas protegem mais o trabalhador terceirizado. Ora, digo que a terceirização nem deveria existir, quanto mais suas medidas de melhorias.
E no caso do seguro-desemprego, então? Esse é o raciocínio mais safado que já vi. O país vive um dos seus momentos mais recessivos nas áreas econômica, trabalhista e tantas outras, e os políticos argumentam que é para evitar a malandragem? Na hora que os desempregados mais precisam, eles aumentam o prazo para ter direito ao subsídio? Não deveria ser ao contrário?  
Não posso deixar de falar da pensão alimentícia que foi modificada porque o governo não quer mais que aconteça o golpe das viúvas negras; Que desculpa pra boi dormir, eu fico imaginando uma mulher que largou o emprego para cuidar dos filhos e provavelmente não pretende voltar a trabalhar até eles completarem 18 anos, pelo menos. Aí, de repente, o cônjuge morre inesperadamente e ela descobre que precisa voltar a trabalhar, pois a pensão não é 100% e não vai durar o prazo da maioridade dos filhos, e mesmo que fosse, será que ela conseguiria voltar ao mercado de trabalho na sua área (com boa remuneração) após os 30 anos ou mais? E se conseguir, quem vai cuidar dos filhos dela? Nem todo mundo tem apoio de família nessas horas, isso quando tem família... Ah tá, tem a creche, lógico, porque não pensei nisso?! (risos).
Ajuste Fiscal... essa palavra parece luzes piscantes na minha cabeça, pois ajuste fiscal, para mim, seria os senhores da política retirar do bolso tudo que roubaram do povo, ajuste fiscal é diminuir ministérios, uma vez que muitos foram criados para fazer acordos entre partidos e cabides de emprego, ajuste fiscal é diminuir impostos e nunca aumentá-los no caso do Brasil, já que a população pagante não tem retorno dos valores que deveriam ser atribuídos à saúde, educação, alimentação e moradia, no mínimo.
E as bolsas? Sou totalmente de acordo, desde que tenha um planejamento eficaz e não fique a conta pra quem já trabalha demais e vai ter milhões de pessoas para sustentar.
É para refletir, não para acusar. É falta de se colocar no lugar do outro.

Ana Nery Machado

28/05/2015

quinta-feira, 21 de maio de 2015

A Oração

Mãe, hoje é o dia que se comemora o Dia das Mães e fiquei a lembrar dos poucos momentos que tivemos juntas...
Lembrei que você foi a primeira pessoa quem me ensinou a orar. Um dia, eu, na fase dos porquês, um poço de fofura, perguntei onde morava Jesus. Fitou o teto de forma pensativa... com as mãos no queixo, olhou pra mim e andou até a janela, abriu-a e me ajudou a subir na cama para avistar melhor lá fora.
Quando ficamos emparelhadas na janela, você apontou pro céu e disse: Ali!
Era a Lua, linda, iluminada e mágica, como sempre!
Fiquei observando e de tanto acreditar, admito que cheguei a ver Jesus, com Nossa Senhora  e São José. A imaginação de uma criança é ilimitada, ainda mais quando se une com a fé. Dali em diante, confiei que o sagrado morava na Lua, então, juntei minhas mãozinhas e me pus a orar.
Até hoje é assim, com a diferença que quando oro todos os dias, imagino a Lua com a Família Sagrada, e Você.

PS: Obrigada por ter aceitado minha vida em ti.

10/05/2015

Você me bateria, Sociedade?

Eu não sou um coitadinho, eu sou o que te formou ontem e o que te formará amanhã.
Eu sou o mal necessário pra você, classe abastada; e o caminho da libertação para os humildes, embora passe longe da vocação de Jesus Cristo.
Eu sou o que te chamou atenção porque bateu no colega ou porque esqueceu o caderno e não fez a lição.
Você perguntava: Pra quê estou aprendendo isso? E eu respondia: Para a vida!
Eu te dei limites para que soubesse viver em sociedade, para que aprendesse a dividir com seu irmão ou não zombasse do coleguinha.
Eu sou o que te chamou atenção por estar gritando na sala, só pra chamar a atenção da menina por quem estava apaixonado.
Eu sou aquele que te deu conselhos sobre assuntos íntimos quando você não tinha coragem de conversar com seus pais.
Ana Lúcia, Eliane, Regina, João Tadeu, Pinheiro, Abmael, Laís; sou todos eles e muito mais.
E embora não tenha percebido, você é uma porção de todos eles também.
Sou a tia do parquinho, sou o professor de matemática que não ria nunca para manter o respeito da sala, sou o professor de português que amava literatura, sou o professor de filosofia que falava sobre a maiêutica maluca, sou o conjunto de vozes que se torna você no amanhã.
Sou a professora pra quem você levava a maça toda murcha e enrolada na mochila da escola para demonstrar o seu carinho e gratidão, mesmo sem expressar uma palavra.
Sou o professor pra quem você se arrependeu de não ter levado uma maça; aquele que te respondia: Para a vida!

Mas por quê? Mas pra quê? Depois dessa época, você me esqueceu, finge que não me vê todos os dias, zomba da minha dignidade e desrespeita o meu ofício.

Se eu fosse a professora pra quem você levava a maça, você me bateria, policial, político, empresário, gestor, pai de aluno, aluno?

Você me bateria, Sociedade?


PS: Por um dia em que a sociedade respeite a profissão que ensina a profissão: o Professor.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Adoraria

Adoraria

Amar o que você ama
Comer o que você come
Ver o que você vê
Sentir o que você sente

Ser você

Adoraria

Amar o que amas
Comer o que comes
Ver o que vês
Sentir o que sentes

Ver você

Pirei ou é só Sonho?

Pensei em não escrever, só que isso está na minha cabeça o dia inteiro pedindo para ser exposto nessas páginas, logo, vamos começar...
Estávamos esperando um avião-ônibus, não, eu não estou viajando, era uma espécie de avião-ônibus e Didi era o piloto-motorista. O veículo-voador lotou com uma meia dúzia de pessoas, confesso que aparentava estar com medo (estava mesmo), logo, não quis sentar no banco do passageiro a frente com Didi, por isso, logo uma assanhada morena sentou ao lado dele e ficou observando seus movimentos e habilidades com o veículo-voador. Deu ciúmes, mas tudo bem. Sentei na fileira de trás e lá fomos nós...
 Paramos em frente ao prédio da companhia telefônica que tem na cidade onde nasci. Didi deu alguns minutos para os passageiros. Aproveitei e fui correndo na loja de departamentos procurar uma fantasia... foi quando me lembrei que não sabia porque procurava tal vestimenta, voltei espavorida, com pressa, naquela avenida esburacada (estava sendo reformada) e com aquela sandália dos anos 70 que não me ajudava muito. Lembro de me ver com uma bermuda amarela, uma blusa cavada (bem) colorida e sandálias brancas com meias de estampa arco-íris. De fato, muito da época.
Assim que cheguei próximo ao veículo-voador, Didi reclamou que eu havia demorado, mas não se delongou e seguimos viagem com os passageiros. Quando chegamos ao meio de um parque, fui transportada do veículo-voador (que estava no ar) para o chão-terra. Não entendi como meu corpo foi parar ali se eu estava no avião-ônibus, mas logo veio um astronauta me dizer que eu não poderia seguir viagem, pois minha irmã (que eu nem sabia que existia) dependia de eu não viajar, para haver o nascimento da filha dela. Não entendi muito bem este propósito, nem o que eu tinha a ver com tudo isso, mas comecei a achar normal eu ser teletransportada de um avião-ônibus, de forma que, (quase) virei moléculas para pisar no chão daquele parque.
Lembrei de perguntar ao astronauta: Mas, minha história com Didi, continua? O astronauta respondeu: Sim! Apontou em direção a sua barriga, onde tinha uma luneta do futuro, abaixei para enxergar... e acordei.
Ana Nery Machado
12-05-2015

quinta-feira, 23 de abril de 2015

GENTE

Tem gente que gosta de observar pássaros, eu prefiro observar gente, porque percebo o quanto somos uma engrenagem de um conjunto de peças que precisam funcionar, todo dia, para gerar a vida. E quando alguma peça quebra, tende a ser substituída por uma nova peça bem lapidada e com a pintura fresquinha. Esse é o mundo; É o jogo da vida.


E você, o que acha?

Acho que neste momento eu preciso escrever mais e amar menos. Aná Nery Machado 14/06/2020